Bases conceptuais para o comportamento da linha defensiva

De todas as regras do jogo, talvez uma das mais mediáticas seja a 11: a do fora-de-jogo. Ainda que muitos não o saibam, a configuração final desta surgiu de forma relativamente tardia, nos anos 90. Depois de ter passado por muitas alterações, desde o século XIX, passando por mudanças ocasionais ao longo do século XX, a regra fixou-se na actual. Por essa altura, passou a não ser fora-de-jogo quando o atacante estivesse em linha com com um ou dois adversários que o separassem da baliza. Esta alteração teve como objectivo fazer com que o jogo obtivesse mais golos.

Essa regra é, porventura, a base de todos os conceitos de organização defensiva que conhecemos hoje. É o espaço que uma equipa deixa atrás de si (e à frente) que determina a profundidade do bloco, é a distância que existe entre o bloco defensivo e a sua baliza que determina quão alto se prepara uma equipa para pressionar e, por fim, é a relação entre a última linha deste bloco e o guarda-redes na gestão deste espaço a que chamamos controlo de profundidade.

É, antes de mais, fundamental perceber que controlar espaço implica escolhas, e que é impossível controlar todos os espaços ao mesmo tempo. Cabe, então, à equipa, escolher que espaços mais valoriza e em que momentos, e adequar os seus comportamentos individuais e colectivos aos estímulos que o adversário vai colocando ou, por outro lado, aos que são os seus interesses estratégicos no jogo, em função do momento e do resultado. Isto significa, portanto, que é muito difícil tapar em permanência os espaços onde a bola está a ser jogada e, simultaneamente, tapar o espaço entre a última linha e o guarda-redes.

Nesse sentido, importa dominar uma série de princípios táctico-espaciais que fazem com que este controlo possa ser mais eficiente e, no limite, com que a linha e o bloco defensivos, não podendo estar em todo o lado, possam mais rapidamente transitar de espaços, de forma coordenada e intencional.

Excluindo desta conversa a opção estratégica de defender com um bloco mais alto ou mais baixo – talvez se possa dizer que as melhores equipas oscilam em função do que se passa durante o jogo -, existem estímulos decisivos para os ajustes espaciais e temporais da linha em organização e transição defensiva. Para que a categorização seja simples, consideremos:

1) bola coberta/descoberta;

2) zona da bola;

3) orientação do jogador em posse;

4) adversários na última linha enquadrados para a profundidade;

5) características da organização ofensiva do adversário e/ou do jogador em posse de bola – procura passe longo? joga mais em apoio?

 

Sobre os comportamentos da linha defensiva em relação a estes estímulos, considerem-se duas variáveis a serem ajustadas:

1) orientação dos apoios;

2) ajuste da altura da linha. 

A primeira diz respeito à forma como os pés dos elementos da última linha estão orientados e devem variar em função dos indicadores anteriores. Em momentos diferentes podem ter como objectivo sair na contenção ou, pelo menos, antever a possibilidade de oferecer cobertura ao primeiro defensor, ou prever a possibilidade de um passe longo na profundidade, estando prontos para ganhar os milésimos de segundo que permitirão chegar antes do opositor. O ajuste da altura da linha diz respeito a encurtar o espaço de que falámos antes, entre os defensores e o guarda-redes, com o objectivo de chegar primeiro que o adversário a eventuais solicitações na profundidade.

Estes indicadores podem ter diferentes leituras e, por certo, terão diferentes interpretações para diferentes treinadores. Contudo, clarificar estes conceitos é importante, por si, para posteriormente estabelecer uma visão modelar do comportamento da linha nos diferentes momentos do jogo.

 

Artigo da autoria do técnico Alexandre Costa

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