A alternância horizontal, a fadiga e o rendimento da equipa

Falei nos últimos artigos (1, 2) sobre controlo do treino e forma física. Indissociável a estes dois temas encontra-se a alternância horizontal em especificidade. Ainda que o controlo do treino seja um instrumento para mensurar cargas e a fadiga dos jogadores, antes disso ainda, importa que os conteúdos e as cargas ministradas permitam 1) uma vivência global dos diversos conteúdos, tácticos, técnicos, físicos, nas dimensões micro e macro do jogo; 2) não incidir, de forma permanente, sobre vivências musculares idênticas e que possam criar sobrecarga de um determinado tipo de contração muscular, mais virado para a resistência, para a força ou para a velocidade.

Este é, aliás, um dos princípios de base estabelecidos pela periodização táctica, juntamente com o princípio da especificidade, das propensões e da progressão complexa. Partimos dela nesta discussão conceptual para definir, antes de mais, que a alternância nas diferentes vivências musculares não diz, necessariamente, respeito a um trabalho das capacidades motoras acima enunciadas: diz antes respeito a uma organização do microciclo que faz com que, a cada dia, os exercícios convirjam mais para uma determinada vivência muscular. Isto pode fazer-se, simplesmente, configurando número, espaço e tempo do exercício. Na periodização táctica a alternância é horizontal em especificidade, na medida em que a diferenciação entre estas vivências se faz em diferentes dias da semana, em função do binómio esforço-recuperação.

Esta binómio é, aliás, a pedra basilar da escolha dos conteúdos ao longo do microciclo. A ele se deve juntar a distância para o jogo anterior, e a proximidade do jogo seguinte. Em função destes dois vectores, far-se-ão escolhas mais pertinentes, que permitirão gerir cargas, aplicando fadiga a uma distância “segura” do jogo seguinte, para que se possa recuperar… treinando em especificidade.

Alguns princípios de base são fundamentais para permitir que isto aconteça, prevenindo lesões, mantendo a intensidade do processo de treino e respeitando os conteúdos mais relevantes para aquele microciclo. Como já falámos, a alternância nas vivências musculares ao longo da semana é fundamental. A ela virá agregada, necessariamente, uma alternância nos conteúdos e nas dimensões organizativas que estão a ser privilegiadas na sessão. 

Contudo, e como os princípios de treino não sobrevivem por si só, é decisivo manter em vista aqueles que são os conteúdos mais relevantes para esse microciclo, em função do adversário anterior, do próximo e, eventualmente, das especificidades da estratégia a adoptar no jogo seguinte. Tudo o que seja uma gestão sectária destes princípios, não procurando gerir o equilíbrio entre eles, reúne todas as condições para aumentar o risco de lesão, incrementar os níveis de fadiga dos jogadores ou, por outro lado, estando demasiado agarrado à gestão de cargas em função do microciclo, negligenciar conteúdos táctico-técnicos decisivos para o rendimento da equipa em jogo.

É neste equilíbrio precário e desafiante que consiste o desafio de liderar uma equipa no treino de alto rendimento.

 

Artigo da autoria de Alexandre Costa - Preparador Físico de futebol

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